foto Jaime Bulhosa
Gosto de histórias bonitas. Mesmo
quando essas histórias são sobre a morte. Porque até na morte pode haver beleza.
Ou não? Já vi alguém dar, literalmente, o último suspiro através de uma porta mal fechada. Depois vesti-o com o melhor fato e dei-lhe
um nó na gravata que me apertou o pescoço de tanta angústia. Já assisti a
pessoas jovens definharem em três meses com cancro.
Recebi a notícia da morte
do meu pai e da minha mãe sem que ninguém estivesse à espera. Já vi amigos de
infância partirem antes da maioridade.
Podia continuar a lista como
qualquer outra pessoa que já tenha acumulado alguma idade. Aprendemos cedo que
a morte é tão natural como a própria vida. No entanto, como já tinha dito gosto
de histórias bonitas. A história que vou contar é bonita e simples. É apenas a
história de uma família que tinha como ritual fúnebre ler em voz alta Mark
Twain aos seus familiares, como se a morte fosse um momento de comicidade, uma
despedida alegre, um até já que mais logo nos vemos. E porque não?