Ilustração de Anton Semenov
Passados tantos dias de
quarentena começa a ser difícil conviver. Não com outros, mas comigo. Benditos
os outros! Já não aguento os meus pensamentos circulares. A minha
voz ecoa dissonante nas quatro paredes da sala, como um violino desafinado. Estou
a ficar cada vez mais calado. O que é uma bênção e outros agradecem. Também já sofro
de TOC, isto é, transtorno obsessivo-compulsivo, não sei de que tipo, porque não
sou psiquiatra, mas de algum tipo sofro de certeza. Pareço uma barata tonta deambulando de cá para lá e de lá para cá, só para gastar o tempo. Por tudo e por nada bato na madeira três vezes, faço figas, deito sal sobre o ombro esquerdo, evito gatos pretos e sussurro rezas estúpidas. Mas
pior são os espelhos, não tolero espelhos partidos. Até vos conto uma história: o outro dia ao deitar o lixo fora, depois
de abrir a tampa do contentor, vejo uma cara horrenda num quadro surrealista. A imagem era igual a de uma personagem saída de um conto de Edgar Allan Poe, Kafka ou de H.G Wells.
Antes de me ter dado conta de que era eu próprio reflectido no espelho, pensei: “Não me admira que tenham deitado esta merda fora!”
Pronto já desabafei. Vocês que me lêem, vocês que me aturem!
Antes de me ter dado conta de que era eu próprio reflectido no espelho, pensei: “Não me admira que tenham deitado esta merda fora!”
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