15/02/2019

o paraíso


Era uma vez. É assim que começam quase todos os contos infantis. Mas não se vá já embora pois esta história pode ser para todas as idades.
Como estava dizer: Era uma vez um homem que se aplicou a roubar a vida inteira. Era um génio do crime, vivo e destemido, do mesmo género da personagem Arsène Lupin, criada pelo escritor Maurice Leblanc. – Não sei se ainda alguém se lembra desta personagem?  Sigamos com a história.
A verdade é que este homem conseguia facilmente enganar todos os sistemas de segurança e desfeitear os maiores detectives do seu tempo. Porém, como acontece a todos os mortais, um dia morreu. Ao acordar da morte, um anjo lindo, todo ele trajado de branco fulgente, recebeu-o de braços abertos e mostrou-lhe o local onde agora e para sempre passaria a “viver”. O homem olhou à sua volta, com toda a atenção e pensou: «Fantástico, este lugar é maravilhoso.» Tem comida abundante, as pessoas vestem admiravelmente bem, tem instalações de luxo e os espectáculos são fenomenais. Tem tudo com o que sempre sonhei.»
Passados os primeiros tempos e depois de já ter gozado de todos os prazeres oferecidos pelo local, o nosso personagem começou a sentir-se entediado. Então, decidiu procurar o anjo e, ao encontrá-lo, pergunta-lhe:
- Anjo! Será que me podes ajudar?
- Claro! Respondeu o anjo da forma mais gentil que se pode imaginar.
- Eu sei que vais estranhar. – Disse o nosso amigo meio acabrunhado. – Mas eu gostaria de voltar a roubar.
- Evidentemente! – Responde o anjo, como só mesmo um anjo consegue responder perante tal desejo. - E o que é que tu gostarias de roubar?
- Estás a ver aquele palácio? - Diz o homem apontando o dedo para o cimo das nuvens. – É esse mesmo!
O anjo sem mostrar o menor espanto ou expressão facial de qualquer tipo, pergunta-lhe:
- E a que horas desejas fazê-lo?
- Pode ser à meia-noite em ponto.
- E o que gostarias de roubar? – Inquire o anjo, o mais solicito que é possível.
 O homem pensa um bom bocado e responde:
- Pode ser a coroa do senhor do palácio.
- Perfeito. Então à meia-noite, conforme combinado, lá estará esperando um guarda que te entregará as chaves e as plantas do palácio.
- Espera! Não, não, não…tu não percebeste bem o que eu queria. Eu quero planear o roubo. Eu quero enganar os guardas. Eu quero seguir o plano exactamente como o imaginei.
- Pois… mas tu não podes fazer isso. - Disse o anjo. – Agora que tu estás morto, as coisas são um pouco diferentes. Aqui tu dizes, simplesmente, o que desejas e nós providenciaremos de imediato.
O homem meio boquiaberto com o que ouvia, diz:
- Não pode ser. Eu sou o maior ladrão de todos os tempos, o maior que o mundo já viu. Qual é o interesse de roubar assim?... Qual é a adrenalina, qual é o entusiasmo? – Depois, desconfiado, como só um ladrão pode ser, pergunta: – Qual é a vossa cena aqui no paraíso!?...
O anjo, olhou para ele, agora de semblante carregado, diria mesmo diabólico e com uma voz cavernosa, contesta:
- E quem foi que te disse que estás no paraíso? 
  

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